Trabalho que analisa fatores condicionantes da mudança gradual do cultivo do café para a criação de gado, em região de colonização recente no noroeste do Paraná, Brasil. Na escolha de urna comunidade que reunisse variaveis significativas sôbre as etapas de mudança que constituem a sequencia floresta-café-gado, foram adotados critérios de representatividade, fundamentados em situações típicas quanto ao grupo populacional, à dimensão das propriedades, e aos sistemas de trabalho. A população é representativa quanto à sua composição étnica, compreendendo sobretudo contingentes de migrantes nacionais provindos do Estado de Minas Gerais e daqueles do Nordeste, e grande número de descendentes de italianos, espanhois, portugueses, japoneses, e outros. A área das propriedades apresenta variações desde 10 até 600 acres e comporta modalidades de sistemas de trabalho desde arrendatários, meeiros, e outros, até o trabalho ocasional.

A metodologia compreendeu ampia pesquisa documental com base nos contratos de compra e venda de terras, fichas de proprietários, mapas de loteamente, pertencentes ao Arquivo da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Dados estatísticos sôbre a área das propriedades, formas de uso da terra, e de produção agrícola, foram levantavos no Arquivo da Secção Municipal do Instituto Brasileiro de Geografía e Estatística—IBGE. Foi, ainda, utilizado o cadastra de propriedades rurais existentes no Arquivo do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária—IBRA. A complementação dos dados assim obtidos, foi efetivada em trabalho de campo, através da realização de entrevistas formais e informais, com o emprego de técnicas de observação participante e aplicação de questionário a grupo selecionado de informantes. Neste caso foi utilizada técnica de amostragem estratificada, obtida dos diversos estratos da população do Municipio com base em características/estabelecidas previamente.

A análise compreendeu aínda a revisão da literatura sôbre a natureza cíclica das mais importantes monoculturas brasileñas, seu carater depredatório, e dos critérios analíticos adotados pelos principáis estudiosos do assunto. Examinadas colocações anteriormente feitas, foram ressaltados os aspectos originais da situação observada na pesquisa, sobretudo no que se refere à ausência, no noroeste do Paraná, de urna estrutura social claramente assentada em duas classes, conforme dicotomia apontada por diversos autores para outras regiõs brasileiras de monocultura.

A partir dos dados levantados foram comparados e revistos os padrões do avanço da frente pioneira de monocultura do café e suas consequências em têrmos da destruição dos recursos naturais. Assim, foi observado que, enquanto na região do Vale do Paraiba, a transição floresta-café-gado consumiu períodos de 50 a 60 anos, no Paraná, a mesma sequência foi acelerada numa conjuntura inferior a duas décadas. A evidência da rapidez com que se processori a destruição dos recursos naturais da região é significativa, sobretudo no momento em que os problemas ecológicos assumem prioridade. A comunidade estudada situa-se em urna das áreas do Paraná considerada problema, em termos do desaparecimento da floresta, em virtude das condições de solo. Assim, a não observancia das previsões de manutenção de reservas florestais, existentes nos planos de colonização da região, acarretou sérios problemas cuja solução está sendo proposta no momento através de um custoso programa de reflorestamento. Em que medida a execução desse programa será mais dispendiosa que a renda auferida na exploração agricola da região desde sua abertura para o cultivo, é urna questão que posso colocar neste ponto.

Pelo exame minucioso dos problemas economico-sociais produzidos pela erradicação de cafeeiros na região, que ocupa dois terços da monografia, o estudo realizado constituí contribuição importante e de atualidade. O decréscimo populacional que acompanhou a transição foi analisado nas suas consequências, evidenciando a depopulação da região que deixou ociosa a infra-estrutura sustentada pela expansão cafeeira. Foram apontadas as mudanças que ocorreram nos sistemas de trabalho, nos níveis de emprego rural e urbano, na reformulação agrária pelo reagrupamento de sitios, eliminando a maioria das propriedades médias e pequenas, e tomando predominantes as grandes fazendas de proprietários absenteistas. Na medida em que foi examinado o ritmo do decréscimo da rentabilidade da agricultura, em virtude do declinio do café e implantação de culturas agrícolas menos lucrativas, a validade da política de erradicação tornou-se questão discutível. O assunto, aliás, vem sendo objeto de muitas discussões, e encontra-se no momento, em plena revisão, existindo projetos do Instituto Brasileiro do Café no sentido de renovação da cafeicultura em determinadas áreas mais propicias, cujos resultados só poderão ser apreciados dentro de algum tempo.

Porém, o confronto estabelecido entre as situações analisadas na monografia e aquelas do sul dos Estados Unidos, nos meados do século XIX, é desnecessário e pouco pertinente, urna vez que a análise comparativa pressupõe exame cuidadoso das variaveis atuantes em contextos distintos no tempo e no espaço.