Trata-se de um importante marco na historiografía sergipana, e urna contribuição substantiva nos estudos dos movimentos revolucionários que ocorreram no Brasil, de Norte a Sul, durante a República Velha. Seu autor é natural de Sergipe, e embora seja esta sua primeira publicação, revela grande acuidade e precisão no arcabouço teórico que norteou suas investigações sobre um tema até então inexplorado. Suas conclusões baseiam-se em farta e diversificada fonte: mensagens e relatórios presidenciais apresentados à Assembléia Legislativa de Sergipe (de 1901 a 1930); cartas, telegramas e anotações pessoais do líder do movimento “tenentista”; jornais e outros periódicos tanto locais como do Rio de Janeiro, sem falar na rica bibliografia nacional e estrangeira que tem o “Tenentismo” como tema. Várias informações contidas na obra foram obtidas através de entrevistas realizadas pelo autor com velhos personagens que participaram ou conviveram com os líderes do movimento revolucionário de Sergipe.

Antes de abordar as revoltas dos “Tenentes, Dantas fornece um quadro bastante claro e informativo da situação economica, politica e social de Sergipe nos inícios da década de 1920: particular atenção é dada à caracterização do setor rural e urbano desta sociedade, salientando as características e problemas de seus mais importantes segmentos populacionais, ou seja, dos grandes e pequenos proprietários de terra, dos lavradores, do emergente proletariado.

Vincula o Autor a emergência do “Tenentismo" em Sergipe ao movimento similar ocorrido em S. Paulo a 5 de julho de 1924: embora houvesse entre a jovem oficialidade sergipense um clima favorável a mudanças, o certo é que foram razões externas, isto é, solidariedade aos revoltosos paulistas, a causa imediata da rebelião que abalou Aracajú por urna vintena de dias. Relata o Autor, com linguagem viva e empolgante, todos os passos desta rebelião iniciada a 13 de julho de 1924. Em seguida discorre sobre a reação e triunfo das forças legalistas, o processo dos “tenentes” e a conjuntura política local após a revolta. A personalidade do chefe dos revoltosos permeia todo o livro: Augusto Maynard Gomes, líder carismático que apesar de filho de senhor de engenho, viveu e defendeu os anseios e problemas dos estratos medios sergipanos. Tanto assim que a 19 de janeiro de 1928, o Tenente Maynard consegue evadir-se da prisão, e lidera nova revolta, sendo esta de apoio “aos camaradas [da Coluna Prestes] que heroicamente se batiam no Norte do país” (p. 169). Nova derrota. Os rebeldes são então degre-dados para a Ilha da Trindade (Espírito Santo). Após urna serie de modificações no panorama politico de Sergipe, Maynard e outros líderes rebeldes ganham a liberdade. A partir daí, então, as pláticas e aspirações contestatórias do movimento "tenentista" tendem a se acomodar: “Não obstante os primeiros rasgos de energia e de radicalismo manifestados através das révoltas de 1924 e 1926, o movimento foi se dobrando às forças da conjuntura local. Os interesses de grupos, os vínculos familiares, enfim, as injunções internas, foram contribuindo para aproximar revoltosos e situacionistas estabelecendo-se então favores mútuos, acordos tácitos e compromissos, resultando numa contenção ou num enfraquecimento da força contestatória do movimento" (p. 224-225). Prova disto é a nomeação do próprio Maynard, após a revolução de ’30, como interventor em Sergipe. É o “crepúsculo da Velha Ordem” (p. 200-211).

Concluindo: tal obra além de preencher urna lacuna na compreensão de um momento crítico da historia politica de Sergipe, fomece ricos subsidios para urna futura confrontação do clima e aspirações revolucionárias nos diversos estados da Federação onde ocorreram rebeliães lideradas pelos “tenentes.”